Como melhorar a saúde na cidade de São Paulo? — um case de UX
Um aplicativo de receitas fáceis e rápidas foi a solução para fomentar (sem trocadilhos) hábitos alimentares mais saudáveis entre os paulistanos
Nota da autora: este texto é um mais-que-breve relato do desafio recebido pelo grupo Turistões, no curso UX na Prática (2019), da Belas Artes, ministrado pelo Allan Cardozo. Missão dada, missão cumprida e aprovada com sucesso.
Cuidar da saúde de uma metrópole como São Paulo não é tarefa fácil — e já não era em julho de 2019, quando ninguém sonhava que o vírus da Covid-19 dominaria o mundo em menos de um ano. Naquela longínqua data, me juntei a Henrique, Lucas, Paloma, Victoria e Caio em um grupo chamado Turistões. Assumimos um nome nonsense para combinar com a aventura sem destino inicial de criar uma solução para o nosso desafio: como melhorar a saúde na cidade de São Paulo?
Fase 1: Empatiza e se joga na pesquisa!
Começamos nosso processo de imersão com discussões e especulações em torno dos problemas enfrentados pelos paulistanos em relação à saúde. O objetivo aqui foi entender o contexto do problema.
Desenhamos um mapa mental para facilitar a organização das ideias. Fizemos algumas correlações e elaboramos hipóteses, como:
O tempo perdido no trânsito gera estresse e cansaço aos paulistanos.
A questão financeira e as desigualdades sociais geram realidades distintas na qualidade de vida em São Paulo.
Pequenos ajustes na qualidade de vida refletiriam em melhora na saúde dos cidadãos paulistanos.
O ritmo de vida em São Paulo induz à má alimentação e ao sedentarismo, além de afetar o sono e a saúde mental.
Os paulistanos têm pouco ou nenhum tempo livre já que passam horas em deslocamentos.
Partimos então para a fase de pesquisa com desk research, um levantamento de informações que nos desse ainda mais contexto. Entre nossos achados, destacaram-se os temas de obesidade e doenças decorrentes dela, além do trânsito.
Para consolidar o levantamento, seria preciso analisar e sintetizar estas informações acomodando nossas hipóteses. Primeiro, organizamos os dados em uma matriz CPS (clientes-problemas-soluções):
Em seguida, desenvolvemos um pouco mais nossas certezas, suposições e dúvidas em uma matriz CSD, que nos levaria ao próximo passo dessa investigação.
Se já tínhamos algumas certezas, sobravam suposições e dúvidas. Logo, nada melhor que confirmar (ou não) estas respostas com pessoas reais e tentar enxergar a questão sob o olhar delas. Criamos então um questionário online, que se dividia basicamente assim:
- Dados demográficos (idade, sexo, habitação e renda);
- Situação de saúde (restrições alimentares e propensão a doenças);
- Qualidade de vida (intenções e práticas de vida saudável, alimentação e atividade física).
Repassamos o questionário a amigos e divulgamos em redes sociais. Depois de uns 5 dias, o resultado foi o seguinte:
Também fizemos duas entrevistas em profundidade, uma delas com a Sol, 50 anos, recepcionista, que dividiu conosco experiências de atendimento no SUS e sua rotina:
Geralmente as mulheres fazem academia, fazem caminhada, de vez em quando eu também: quando eu tô com tempo eu faço caminhada lá perto da minha casa.
Por fim, para consolidar quem são essas pessoas que sofrem com problemas de saúde na cidade de São Paulo, criamos duas protopersonas (uma vez que não havia dados e pesquisa suficiente para chamá-las de personas).
Fase 2: Ideação, botando as cartas na mesa
Uma vez definidos os potenciais usuários, era hora de começar a pensar na solução. Para trabalhar essa ideia e mensurar seu potencial, usamos um canvas de proposição de valor, seguido pela priorização de features com a demarcação do MVP.
Foi assim que convergimos e decidimos fazer um aplicativo de receitas fáceis e saudáveis, que levasse em conta as limitações de cada usuário: tempo, ingredientes disponíveis, modos de preparo e restrições alimentares. A via da prevenção e redução de danos em saúde pareceu o caminho mais abrangente como um primeiro passo mais acessível para melhorar a saúde dos paulistanos, considerando toda a pesquisa que realizamos para este projeto.
Interessante notar que depois de fazer todo esse caminho rumo ao MVP e à definição do produto, pensamos em validar o conceito com usuários. Será que um app desse estilo seria bem recebido por eles? A intenção acabou sendo deixada de lado por pura falta de tempo durante o curso.
Fase 3: Hora de prototipar
Com pesquisa, contexto do problema definido, protopersonas criadas e proposicão da solução, era hora de começar a desenhar. O rascunho começou com a técnica do Crazy Eights ou 8 Steps, que consiste basicamente em dobrar uma folha de papel de forma a gerar 8 retângulos, cada um representando uma ideia ou tela. O legal do Crazy Eights é que todo mundo pode contribuir, mesmo aqueles que, como eu, não desenham nada!
Todas as ideias geradas foram então votadas: as mais populares, selecionadas; as repetidas, reunidas; e as menos votadas, descartadas. Assim fomos refinando as telas e pronto: esse seria nosso protótipo de baixa fidelidade.
Evoluímos então para o protótipo de média, que usamos em nossos testes. Testamos com cinco usuários e pela experiência sentimos a gigantesca contribuição que só pessoas reais usando seu produto podem dar. A ideia foi saber se cada um deles conseguiria gerar a receita desejada em um determinado tempo, e quais as dificuldades e estranhamentos que encontrariam dentro deste objetivo. Enquanto uma pessoa do grupo entrevistava, outra observava exclusivamente e fazia anotações.
Já tínhamos o feedback de usuários e novos insights para aprimorar o app. Faltava um nome, um logo e a identidade visual. Depois de algumas dinâmicas e muito brainstorming, fechamos com Rangô (rango + go = rangou. Pegou, pegou?). Os designers do grupo deliberaram, o restante aprovou e definimos a paleta de cores e o logo. E assim chegamos ao protótipo de alta fidelidade do nosso MVP.
Mesmo essa primeira versão carecia de melhorias que não conseguimos fazer por conta do tempo apertado: otimizar o fluxo de navegação entre algumas telas, incluir um onboarding e trabalhar o UX writing do Rangô*, mas a divisão de tarefas e o tempo apertado não permitiram (novamente).
Finalmente, definimos que os KPIs do Rangô poderiam ser mensurados por:
- usuários cadastrados na plataforma
- receitas favoritadas ou compartilhadas (❤️)
- fotos adicionadas por usuários nas receitas
- avaliação das receitas (⭐)
Quando fechamos o MVP, muitas ideias e features ficaram no backlog para implementação futura. Nossos próximos passos seriam:
- fazer mais testes
- captar feedbacks
- pesquisas e database
- personalização de favoritos por categoria
- vídeos das receitas
- marketplace
- parcerias com supermercados, lojas de produtos saudáveis
- parcerias com instituições de saúde
- atendimento nutricional personalizado
Apesar de ser o “fim” do processo, esse foi apenas seu primeiro ciclo — iteração, prazer!
*Se quiser saber como ficaria o Rangô depois de um makeover de UX Writing, veja meu case lá no Notion.